sábado, 11 de junho de 2011

"Toda traição pega você desprevenido. A infidelidade, ao contrário, é sempre uma possibilidade, mesmo quando parece improvável."
 
hoje me desfiz dos meus bens
vendi o sofá cujo tecido desenhei
e a mesa de jantar onde fizemos planos

o quadro que fica atrás do bar
rifei junto com algumas quinquilharias
da época em que nos juntamos

a tevê e o aparelho de som
foram adquiridos pela vizinha
testemunha do quanto erramos

a cama doei para um asilo
sem olhar pra trás e lembrar
do que ali inventamos

aquele cinzeiro de cobre
foi de brinde com os cristais
e as plantas que não regamos

coube tudo num caminhão de mudança
até a dor que não soubemos curar
mas que um dia vamos

          Martha Medeiros (1961) é gaúcha de Porto Alegre, onde reside desde que nasceu. Fez sua carreira profissional na área de Propaganda e Publicidade, tenho trabalhado como redatora e diretora de criação  em vária agências daquela cidade. Em 1993, a literatura fez com que a autora, que nessa ocasião já tinha publicado três livros, deixasse de lado essa carreira e se mudasse para Santiago do Chile, onde ficou por oito meses apenas escrevendo poesia.

         De volta ao Brasil, começou a colaborar com crônicas para o jornal Zero Hora, de Porto Alegre, onde até hoje mantém coluna no caderno ZH Donna, que circula aos domingos, e outra — às quartas-feiras — no Segundo Caderno. Escreve, também, uma coluna semanal para o sítio Almas Gêmeas e  colabora com a revista Época.

        Seu primeiro livro, Strip-Tease (1985), Editora Brasiliense - São Paulo, foi o primeiro de seus trabalhos publicados. Seguiram-se Meia noite e um quarto (1987), Persona non grata (1991), De cara lavada (1995), Poesia Reunida (1998), Geração Bivolt (1995), Topless (1997) e Santiago do Chile (1996).  Seu livro de crônicas Trem-Bala (1999), já na 9a. edição, foi adaptado com sucesso para o teatro, sob direção de Irene Brietzke. A autora é casada e tem duas filhas.

Texto extraído do livro "Martha Medeiros - Poesia Reunida", L&PM Editores - Porto Alegre, 1999, pág. 127.


"Tenho um respeito tremendo por quem sofre em silêncio, principalmente pelos que sofrem por amor.
Amar é supreender…"

Beijos!


terça-feira, 31 de maio de 2011

E a Martha invade o intimo de todas!






"Pode invadir ou chegar com delicadeza, mas não tão devagar que me faça dormir. Não grite comigo, tenho o péssimo hábito de revidar. Acordo pela manhã com ótimo humor mas ... permita que eu escove os dentes primeiro. Toque muito em mim, principalmente nos cabelos e minta sobre minha nocauteante beleza. Tenho vida própria, me faça sentir saudades, conte algumas coisas que me façam rir, mas não conte piadas e nem seja preconceituoso, não perca tempo, cultivando este tipo de herança de seus pais. Viaje antes de me conhecer, sofra antes de mim para reconhecer-me um porto, um albergue da juventude. Eu saio em conta, você não gastará muito comigo. Acredite nas verdades que digo e também nas mentiras, elas serão raras e sempre por uma boa causa. Respeite meu choro, me deixe sózinha, só volte quando eu chamar e, não me obedeça sempre que eu também gosto de ser contrariada. ( Então fique comigo quando eu chorar, combinado?). Seja mais forte que eu e menos altruísta! Não se vista tão bem... gosto de camisa para fora da calça, gosto de braços, gosto de pernas e muito de pescoço. Reverenciarei tudo em você que estiver a meu gosto: boca, cabelos, os pelos do peito e um joelho esfolado, você tem que se esfolar as vezes, mesmo na sua idade. Leia, escolha seus próprios livros, releia-os. Odeie a vida doméstica e os agitos noturnos. Seja um pouco caseiro e um pouco da vida, não de boate que isto é coisa de gente triste. Não seja escravo da televisão, nem xiita contra. Nem escravo meu, nem filho meu, nem meu pai. Escolha um papel para você que ainda não tenha sido preenchido e o invente muitas vezes.

Me enlouqueça uma vez por mês mas, me faça uma louca boa, uma louca que ache graça em tudo que rime com louca: loba, boba, rouca, boca ... Goste de música e de sexo. goste de um esporte não muito banal. Não invente de querer muitos filhos, me carregar pra a missa, apresentar sua familia... isso a gente vê depois ... se calhar ... Deixa eu dirigir o seu carro, que você adora. Quero ver você nervoso, inquieto, olhe para outras mulheres, tenha amigos e digam muitas bobagens juntos. Não me conte seus segredos ... me faça massagem nas costas. Não fume, beba, chore, eleja algumas contravenções. Me rapte! Se nada disso funcionar ... experimente me amar!"





          Pra quem assistiu o filme Divã e amou (como eu), imagina ler o livro Divã nas palavras de Martha Medeiros?! 



Trecho do livro Divã - Martha Medeiros

"Eu sei que falei em prazer gratuito semanas atrás, e sei o que vc pensa a respeito: nada é gratuito. Mas, por enquanto não consigo contrariar essa forte impressão de que a conta não virá.Se eu sinto alguma culpa, não é pelo o que faço às escondidas,não é culpa por estar me dedicando a uma experiência socialmente reprovável : é culpa por não sentir culpa alguma.Por estar achando tudo condizente com meu grau de exigênciaem relação ao aproveitamento do meu tempo, condizente com a minha fome, que nunca foi de comida, mas de vivência. A pergunta que mais faço é: pq não? Desde pequena, desde que tomei gosto pelo ato de respirar e me senti atraída pelos dias que estavam por vir, horas repletas de novidade, desde que eu despertei para a leitura e que passei a sentir o sabor das coisas de uma forma muito entusiasmada, desde que eu soube que podia pensar e que o pensamento era livre, que dentro do meu pensamento ninguém poderia me achar, desde que meus seios cresceram e eu descobri que pessoas tinham cheiro, desde lá até aqui eu me pergunto: pq não me oferecer para aquilo que não fui preparada? Eu tenho as armas de que necessito para me defender, e mesmo que eu perca, eu ganho, já perdi algumas vezes e sei como funciona a lei das compensações. Quero acolher com generosidade o que em mim se manifesta de forma incorreta. Não vou pedir permissão aos outros para desenvolver a mim mesma, mando no meu corpo e em tudo o que ele confina, coração incluído, consciência incluída. Talvez eu esteja com receio de ter ido longe demais desta vez e esteja preparando a minha defesa, caso alguma coisa não saia como esperado. O que eu espero? Não espero nada, espero tudo,estou à deriva nessa aventura. Eu queria cristalizar esse momento da minha vida, mas estou em alta velocidade, e não sei se quero ir adiante, só que eu não tenho opção. Acho que é isso. Eu tinha opções, agora não tenho. Não consigo parar esse trem." (Martha Medeiros)

PEDAÇOS DE MIM

Eu sou feito de
Sonhos interrompidos
detalhes despercebidos
amores mal resolvidos

Sou feito de
Choros sem ter razão
pessoas no coração
atos por impulsão

Sinto falta de
Lugares que não conheci
experiências que não vivi
momentos que já esqueci

Eu sou
Amor e carinho constante
distraída até o bastante
não paro por instante

Tive noites mal dormidas
perdi pessoas muito queridas
cumpri coisas não-prometidas

Muitas vezes eu
Desisti sem mesmo tentar
pensei em fugir,para não enfrentar
sorri para não chorar

Eu sinto pelas
Coisas que não mudei
amizades que não cultivei
aqueles que eu julguei
coisas que eu falei

Tenho saudade
De pessoas que fui conhecendo
lembranças que fui esquecendo
amigos que acabei perdendo
Mas continuo vivendo e aprendendo.


Beijos!

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Simplesmente... PERFEITA!





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" Quero saber, entre todas aquelas que eu sou, quem é a chefe, quem manda dentro de mim."

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"O tempo não cura tudo. Aliás, o tempo não cura nada, o tempo apenas tira o incurável do centro das atenções."

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"Há homens que têm patroa.
Há homens que têm mulher.
E há mulheres que escolhem o que querem ser."

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"Vamos deixar para sofrer pelo que é realmente trágico, e não por aquilo que é apenas um incômodo, senão fica impraticável atravessar os dias"

[Coisas da Vida-A importância de perder peso-pág 170]

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“Trabalhe como se você não precisasse do dinheiro,
Ame como se você nunca tivesse sido magoado, e dance como
se ninguém estivesse te observando.”

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"O único silêncio que perturba,é aquele que fala. E fala alto. É quando ninguém bate à nossa porta,não há emails na caixa de entrada, não há recados na secretária eletrônica e, mesmo assim, você entende a mensagem."

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"Faço menos planos e cultivo menos recordações. Não guardo muitos papéis, nem adianto muito o serviço. Movimento-me num espaço cujo tamanho me serve, alcanço seus limites com as mãos, é nele que me instalo e vivo com a integridade possível. Canso menos, me divirto mais, e não perco a fé por constatar o óbvio: tudo é provisório, inclusive nós."

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"meu sumiço é covarde mas atento, meio fajuto meio autêntico, sumi porque
sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco e sapiência,
pareço desinteressado, mas sumi para estar para sempre do seu
lado, a saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua
desajeitada e irrefletida permanência."

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"A todos trato muito bem
sou cordial, educada, quase sensata,
mas nada me dá mais prazer
do que ser persona non grata
expulsa do paraiso
uma mulher sem juízo, que não se comove com nada
cruel e refinada
que não merece ir pro céu, uma vilã de novela
mas bela, e até mesmo culta
estranha, com tantos amigos
e amada, bem vestida e respeitada
aqui entre nós
melhor que ser boazinha é não poder ser imitada."

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“Tristeza é quando chove
quando está calor demais
quando o corpo dói
e os olhos pesam
tristeza é quando se dorme pouco
quando a voz sai fraca
quando as palavras cessam
e o corpo desobedece
tristeza é quando não se acha graça
quando não se sente fome
quando qualquer bobagem
nos faz chorar
tristeza é quando parece
que não vai acabar”

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"QUEM MORRE?


Morre lentamente
Quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem não encontra graça em si mesmo

Morre lentamente
Quem destrói seu amor próprio,
Quem não se deixa ajudar. 

Morre lentamente
Quem se transforma em escravo do hábito
Repetindo todos os dias os mesmos trajeto,
Quem não muda de marca,
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou 
Não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente
Quem evita uma paixão e seu redemoinho de emoções, Justamente as que resgatam o brilho dos 
Olhos e os corações aos tropeços. 

Morre lentamente
Quem não vira a mesa quando está infeliz 
Com o seu trabalho, ou amor,
Quem não arrisca o certo pelo incerto 
Para ir atrás de um sonho, 
Quem não se permite, pelo menos uma vez na vida, Fugir dos conselhos sensatos... 

Viva hoje !
Arrisque hoje ! 
Faça hoje !
Não se deixe morrer lentamente!"

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O que dizer essa mulher?! Que consegue expressar todos nossos sentimentos e poucas e simples palavras...


Beijos!

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Tinha uma pedra no meio do caminho?! C.D.A





Definitivo

Definitivo, como tudo o que é simples. 
Nossa dor não advém das coisas vividas, 
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. 

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos 
o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções 
irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado 
do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter 
tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que 
gostaríamos de ter compartilhado, 
e não compartilhamos. 
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade. 

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas 
as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um 
amigo, para nadar, para namorar. 

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os 
momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas 
angústias se ela estivesse interessada em nos compreender. 

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. 

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo 
confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, 
todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar. 

Por que sofremos tanto por amor? 
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma 
pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez 
companhia por um tempo razoável,um tempo feliz. 

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um 
verso: 

Se iludindo menos e vivendo mais!!! 
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida 
está no amor que não damos, nas forças que não usamos, 
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do 
sofrimento,perdemos também a felicidade. 

A dor é inevitável. 
O sofrimento é opcional...



          Melhor do que lê-lo é ouvi-lo, sentí-lo e admirá-lo. A mais ou menos 2 anos atrás CDA esteve presente de diversas formas no programa "Arquivo N" da GloboNews. Vale a pena ganhar alguns minutos com essa super produção.



Gostaram?!

Beijos!

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Voltando ao Drummond...



          Quando se diz que Drummond foi o primeiro grande poeta a se afirmar depois das estreias modernistas, não se está querendo dizer que Drummond seja um modernista. De fato herda a liberdade linguística, o verso livre, o metro livre, as temáticas cotidianas. Mas vai além. "A obra de Drummond alcança — como Fernando Pessoa ou Jorge de Lima, Herberto Helder ou Murilo Mendes — um coeficiente de solidão, que o desprende do próprio solo da História, levando o leitor a uma atitude livre de referências, ou de marcas ideológicas, ou prospectivas", afirma Alfredo Bosi (1994).


Sentimento do Mundo (1940)


Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microcopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer

esse amanhecer
mais noite que a noite.


          Sentimento do mundo" é primeiro poema e o que deu nome ao seu 3º livro publicado em vida. Ele nos revela a visão-de-mundo do poeta: não é alegre, antes, é cheia da realidade que sempre nos estarrece, porque, por mais que sonhemos, a realidade geralmente é dura e muito desafiante, lembrando que o contexto histórico é a 2ª Guerra Mundial.

          Em "Confidência do Itabirano", percebemos seu conflito com suas origens, um poema narrativo e até argumentativo o poema o constrói na oralidade cotidiana popular e faz referências a sua infância:

Confidência do Itabirano

Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e
comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas que ora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!


          O poema começa com a saudade profunda de seu lugar de nascimento, traçado em quatro belas, mas sofredoras estrofes. Confessa (estrofe 3) que aprendeu a sofrer por causa de Itabira; mas, paradoxalmente: "A vontade de amor (...) vem de Itabira"; vale dizer que o amor nasce e é servido no sofrimento. De Itabira vem a explicação de Drummond viver de "cabeça baixa" (estrofe 3, verso 6). Afinal, apesar das negatividades, o poeta sente uma incomensurável saudade de sua cidade natal.

            Outro poema que gosto muito:

CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte, depois morreremos
de medo e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.


             Neste poema, Drummond evidencia claramente o sentimento comungado por todos, simples mortais. É nele que Drummond fala do "amor que se refugiou no mais baixos dos subterrâneos, do medo que esteriliza o braço, no medo da morte e do depois da morte, e principalmente, no medo dos ditadores e no medo dos democratas". O poema escrito há pelo menos 60 anos contrasta com a página amarela e triste da nossa história que insiste em não virar, e se tornar passado de nossas vidas.
         Em “Congresso internacional do medo” Drummond com verdade e ironia coloca o medo como o grande dominador de nossa sociedade: “Provisoriamente não cantaremos o amor, que se refugiou mais abaixo do subterrâneos. Cantaremos o medo que esteriliza os abraços...”

          O difícil é selecionar, quanto um poeta é competente por excelência!!



Ninguém é igual a ninguém. Todo o ser humano é um estranho ímpar.





[Carlos Drummond de Andrade]
E vocês, qual poema mais te agrada desde incrível homem?!
Beijos!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Depoimento da professora Amanda Gurgel.

          Antes de começar esse poste deixa eu tirar o pó...rs!
          Desculpem o abandono, tive alguns problemas, mas estou de volta ativa!


          Bom... Hoje resolvi fazer um poste diferente do habituado, recebi um vídeo de um depoimento de uma Audiência pública sobre o cenário atual da educação no Brasil RN.
               Sem muitos argumentos vejam vocês mesmos:


Como disse Marcelo Tas em seu blog:

EDUCAÇÃO BRASILEIRA...




          Em exatos 8 minutos, desenha com precisão, clareza e sobretudo com dignidade o seu estado de espírito como professora e o estado da Educação no Brasil.
Professora Amanda, conte com meu apoio, respeito e admiração!

        Conversando com meu namorado sobre o assunto e compartilhando o vídeo com ele, fui surpreendida por este pensamento:


         "São 22 idiotas correndo atras de uma bola, e recebem milhões para isso, a maioria não sabem nem falar, o que isso influencia na minha sabedoria!? Nada, que adianta, " QUE EMOÇÃO, MEU TIME FOI CAMPEÃO" e dai?
          Agora, aqueles profissionais que ficam horas, ensinando a escrever, a fazer uma conta, não tem o seu devido valor, e recebem o que recebem. As vezes tem que levar desaforo pra casa, de um filho de uma puta que não tem educação, por que a mãe só que saber de mandar pra escola, mas educação não quer nem saber."


          E agora eu te provoco: E o futuro de nosso país?!

Beijos!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Vamos falar de Drummond?!

          Quem já teve o privilégio de sentar ao lado deste senhor muito simpático na Praia de Copacabana, RJ?!


          Carlos Drummond de Andrade (1902/1987 - ano em que eu nasci!), trabalha sobretudo com o tempo, em sua cintilação cotidiana e subjetiva, no que destila do corrosivo. Lançou-se ao encontro da história contemporânea e da experiência coletiva, participando, solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta a explicitação de sua mais íntima apreensão para com a vida como um todo. Quem dirá que um escritor com o porte de Drummond já foi expulso de uma escola por "insubordinação mental" (Se alguém achar uma explicação relevante para esse termo me ajudem!), então aos 17 anos Drummond já mostrava a que veio ao mundo. Conseguiu ser expulso do colégio por “insubordinação mental”, Ok!, seja lá o que isso significou na prática, reforça minha admiração pelo poeta.

          Bom, viajando pelas palavras do escritor, me deparei com sua crônica "Diálogo dos Pessimistas" no Recando das letras e li um texto sobre o assunto da tal "insubordinação mental" que Helena Sut escreveu, muito interessante, veja:


Diálogo dos pessimistas

- Eu é que sei? Só posso dizer que a coisa anda preta.

- O jeito é apertar o cinto.
- Já apertei. Não sobrou nenhum furo.
- Fure outros. Vá furando até o infinito.




          "O diálogo acima surpreende pela ironia, mas aos poucos observamos com tristeza que são frases presentes nos diálogos cotidianos. Quem nunca falou que a coisa está preta? Alardeou a necessidade de apertar o cinto?
          A ordem política, social e econômica é entendida muitas vezes como uma coisa indefinida, nossas impossibilidades como cintos apertados até o infinito. Não haveria uma deliberada omissão de cada um na falta de atitude? Os cintos apertados não seriam verdades exauridas?
Não podemos deixar o pessimismo descolorir nossos olhares, nem um lúdico arco-íris nos aprisionar em alienadas versões. A realidade é mais dinâmica do que tais determinações e deve ser construída com criatividade por cada indivíduo. Criar é ser humano em sua plenitude.
          Como disse Picasso: "Todo ato de criação é, antes de tudo, um ato de destruição". Sob este olhar, o ato criativo é um ato de insubordinação contra a ordem vigente e de reconstrução de uma nova verdade em um contexto contemporâneo. Se analisarmos dois mitos das tradições grego e judaico-cristã, Prometeu e Adão e Eva, verificamos que a criatividade está no ato de rebelião contra o poder onipotente. Criar uma nova realidade, um mundo mais justo, não é deixar se apoderar por percepções vencidas, mas se armar para a luta pelas próprias convicções, criar as abordagens apropriadas e sua penetração no mundo. Não é fácil o nascimento do ato criativo, devemos destruir alguns alicerces exauridos e fazer a "coisa".
          "Mas a coisa está preta" justificariam os pessimistas; "ainda há cinto para ser apertado", alguns se conformariam, e outros ainda achariam que "a coisa não está tão ruim como parece". Apesar de tantas opções, de tantas personalidades e visões, otimistas ou pessimistas, há de se fazer as coisas...
          A adolescência de Carlos Drummond de Andrade, autor da crônica Diálogo de Pessimistas, é marcada por um fato extraordinário: o poeta foi expulso do Colégio Anchieta da Companhia de Jesus em Nova Friburgo sob a alegação de "insubordinação mental". Resta-nos indagações... O que significaria insubordinação para os regentes do colégio interno? Seria não acreditar nas mesmas coisas? Seria construir a individualidade alicerçada nas próprias verdades?
Carlos Drummond de Andrade, diplomado em farmácia em Ouro Preto, colaborador de diversos jornais, funcionário público, escritor, poeta, com obras traduzidos em inúmeros idiomas, foi um insubordinado ao criar a individualidade do autor e valorizar suas verdades e contradições. A suposta insubordinação mental que cicatrizou em sua adolescência marcou toda uma geração e certamente marcará para sempre a história da literatura brasileira.
E você, leitor? Permanecerá subordinado às coisas pretas e aos cintos apertados ou já começou o seu processo de criação?"


Beijos!