sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Florbela Espanca

"Quem me dera encontrar o verso puro, O verso altivo e forte, estranho e duro, Que dissesse a chorar isto que sinto!"


          Quem, ao menos, nunca ouviu falar nesta escritora que tem poesia até no nome. Está "Flor Bela" é uma poeta Portuguesa que foi precursora do movimento feminista em Portugal. 
A temática de sua poesia é recorrente ao sofrimento, a solidão e ao desencanto que se contrapõem a uma ternura e um desejo de felicidade que somente pode ser alcançado no absoluto. A veemência passional de sua linguagem, traço pessoal que transparece suas frustrações e anseios por vezes carregados de sensualidade e erotismo, são características de suas poesias e de sua obra. A poetisa não se ligou claramente a um movimento literário; alheia ao modernismo (mesma época de Clarice no Brasil), seguiu a linha do poeta António Nobre, e a técnica do soneto que a celebrizou, teve influência de Antero de Quental e mais longinquamente de nada mais nada menos que Camões, o pai da Literatura Portuguesa.
          Sua vida, não foi nada fácil, pra ilustrar isso em dois de dezembro de 1930, Florbela encerra seu Diário do Último Ano com a seguinte frase: “…e não haver gestos novos nem palavras novas.” Às duas horas do dia 8 de dezembro – no dia do seu aniversário Florbela D’Alma da Conceição Espanca suicida-se em Matosinhos, ingerindo dois frascos de Veronal. Algumas décadas depois seus restos mortais são transportados para Vila Viçosa, (…) a terra alentejana a que entranhadamente quero.”
          Intenso, não?! 

          Na verdade, iria postar sobre a FlorBela na semana que vem. Porém, ao assistir a novela TITITI (novela das 19h da rede Globo), me surpreendi com esta cena:



          Fiquei encantada: Um homem fazendo uma declaração dessas de amor a uma mulher e... usando uma escritora (MULHER) para isso. Então acredito: Estamos realmente conquistando nosso espaço!! rs
           E nada mais, nada menos que o Real Gabinete Português de Leitura no Rio de Janeiro, para ilustrar a cena. Como se eles estivessem em Portugal, que aliás, ele prometeu levá-la!! (Torço pra cena ir ao ar durante a novela rs), gosto muito desta novela e devo admitir que a Rede Globo está de parabéns!

Voltando a nossa Flor, ai vai o poema: Fanatismo

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver !
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida !

Não vejo nada assim enlouquecida ...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida !

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa ..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim !

E, olhos postos em ti, digo de rastros :
"Ah ! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus : Princípio e Fim ! ..."

[Livro de Soror Saudade (1923)]

          E claro, como uma boa aluno do curso de Letras, fiz uma breve análise do poema seguindo algumas instruções didáticas e colocando um pouco da minha humilde opinião.

          O texto, em seu início, apresenta uma expressão de sofrimento, característica de Florbela que sempre procura entrelaçar o “Amor” e a “Dor”, como se não fosse possível um existir sem o outro. É interessante essa relação, pois, no íntimo, quem é que não gosta de ter saudade ou imaginar a presença da pessoa amada que está longe.Em seu primeiro quarteto, “Fanatismo” apresenta um eu-lírico que sente a falta do ser que ama e o fato de não vê-lo é comparado, de forma dramática, à uma cegueira, que também pode ser entendida como “um não querer enxergar” mais nada além dele. Isso é observado nos versos “(...) Minh`alma de sonhar-te, anda perdida. / Meus olhos andam cegos de te ver!(...)” e representa o sofrimento. Já a intensidade desse amor está explícita na comparação do objeto do desejo com a própria vida: “(...) Pois que tu és já toda a minha vida! (...)”.Junto com a dor, o segundo quarteto demonstra o desalento diante das situações que não mudam e que é capaz de levar à loucura. A incapacidade de se alterar o curso natural da vida leva apenas a uma passagem pelo mundo, onde se consegue no máximo, contemplar seus mistérios.Observa-se, nessa primeira parte, a desilusão e o pessimismo, enfocados de maneira terna e sonhadora, onde a “Dor” está numa posição de destaque. A partir daí, Florbela tende a fazer uma inversão, colocando nessa posição de destaque o “Amor”, ou seja, transita sutilmente entre a “Dor” e o “Amor”, sentimentos que para ela, estão intimamente ligados.
          A fugacidade da vida, outro tema explorado pela poetisa, é encontrado no primeiro terceto do poema na passagem “(...) “Tudo no mundo é frágil, tudo passa...” (...)” e quando a vida parece não ter mais valor, o otimismo emerge do nada, como que por uma força divina,trazendo consigo o “Amor” em sua maior intensidade, até mesmo platônico, capaz de provocar uma submissão total, uma entrega sem limites, onde o eu-lírico volta a expressar que o ser amado representa a sua vida, “o seu tudo” independente do que possa acontecer, como podemos verificar no final do poema: “(...) E, olhos postos em ti, digo de rastros: / “Ah! Podem voar mundos, morrer astros, / Que tu és como Deus: Princípio e Fim!...”



          E ai, concordam?! Discordam?! O que acharam?!

Pra terminar, deixo uma de suas citações que me identifico muito.


     Beijos!



quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Falando nela...

          Já que estamos falando da Diva das entrelinhas, deixarei aqui algumas de suas maravilhosas citações extraídas de alguns livros que admiro como:


Sopro de Vida
-Felicidade Clandestina
-Onde Estivestes de Noite
-Perto do Coração Selvagem
-Água Viva
-A Hora da Estrela
-A Descoberta do Mundo


          Esses são só um tempero especial para, quem sabe, uma grande leitura inesquecível de sua vida!
E claro, não darei "nome aos bois" é sempre bom aguçar a curiosidade alheia! rs!



"Sou o que quero ser, porque possuo apenas uma vida e nela só tenho uma chance de fazer o que quero.
Tenho felicidade o bastante para fazê-la doce dificuldades para fazê-la forte, Tristeza para fazê-la humana e esperança suficiente para fazê-la feliz. As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas, elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos."

“Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes… tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos. Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
- E daí? Eu adoro voar!
Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre.”

“Viver em sociedade é um desafio porque às vezes ficamos presos a determinadas normas que nos obrigam a seguir regras limitadoras do nosso ser ou do nosso não-ser... 

"Quero dizer com isso que nós temos, no mínimo, duas personalidades: a objetiva, que todos ao nosso redor conhece; e a subjetiva... Em alguns momentos, esta se mostra tão misteriosa que se perguntarmos - Quem somos? Não saberemos dizer ao certo!! Agora de uma coisa eu tenho certeza: sempre devemos ser autênticos, as pessoas precisam nos aceitar pelo que somos e não pelo que parecemos ser... Aqui reside o eterno conflito da aparência x essência. E você... O que pensa disso?”
Que desafio, hein?
"... Nunca sofra por não ser uma coisa ou por sê-la..."

"...há impossibilidade de ser além do que se é - no entanto eu me ultrapasso mesmo sem o delírio, sou mais do que eu, quase normalmente - tenho um corpo e tudo que eu fizer é continuação de meu começo... a única verdade é que vivo.
Sinceramente, eu vivo.
Quem sou? Bem, isso já é demais..."

"Ser feliz é uma responsabilidade muito grande. Pouca gente tem coragem. Tenho coragem mas com um pouco de medo. Pessoa feliz é quem aceitou a morte. Quando estou feliz demais, sinto uma angústia amordaçante: assusto-me. Sou tão medrosa. Tenho medo de estar viva porque quem tem vida um dia morre. E o mundo me violenta."

"Dá-me a tua mão: Vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta. De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a linha de mistério e fogo, e que é linha sub-reptícia. Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois fatos existe um fato, entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir - nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio."

"Mas nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que respeitar a nossa fraqueza. Então, são lágrimas suaves, de uma tristeza legítima a qual temos direito. Elas correm devagar e quando passam pelos lábios sente-se aquele gosto salgado, límpido, produto de nossa dor mais profunda."

"Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou, sabe. Perigo de mexer no que está oculto - e o mundo não está à tona, está oculto em suas raízes submersas em profundidades do mar. Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é que existo intuitivamente. Mas é um vazio extremamente perigoso: dele arranco sangue. Sou um escritor que tem medo da cilada das palavras: as palavras que digo escondem outras - quais? Talvez as diga. Escrever é uma pedra lançada no fundo do poço."

"Não é a toa que entendo os que buscam caminho. Como busquei arduamente o meu! E como hoje busco com sofreguidão e aspereza o meu melhor modo de ser, o meu atalho, já que não ouso mais falar em caminho. Eu que tinha querido. O caminho, com letra maiúscula, hoje me agarro ferozmente à procura de um modo de andar, de um passo certo. Mas o atalho com sombras refrescantes e reflexo de luz entre as árvores, o atalho onde eu seja finalmente eu, isso não encontrei. Mas sei de uma coisa, meu caminho não sou eu, é o outro, são os outros. Quando eu puder sentir plenamente o outro, estarei salva e pensarei: eis o meu porto de chegada."

"...uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso."


          Algo que tocou seu coração?! Esperamos que sim!
Deixo aqui mais uma imagem maravilhosa da nossa Clarice Lispector...








Até a próxima!

Beijos!

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Clarice, sempre Clarice!

          Todos nós já ouvimos falar, nem que seja só de nome, desta famosa, vislumbrante e incrível mulher e escritora Clarice Lispector, aquela escritora que revolucionou a Literatura Modernista com um estilo único e com uma intimidade inacreditável com as palavras.
        
          Dona dessa e muitas outras frases famosas como: (Vou aproveitar um vídeo lindíssimo que achei no youtube!!)




E muitas outras... (Se eu colocar todas que eu amo aqui, nunca vou acabar esse post!! rs)

"Clarice, ao mesmo tempo que ousava desvelar as profundezas de sua alma em seus escritos, ela costumava evitar declarações excessivamente íntimas nas entrevistas que concedia, tendo afirmado mais de uma vez que jamais escreveria uma autobiografia. Contudo, nas crônicas que publicou no Jornal do Brasil entre 1967 e 1973, deixou escapar de tempos em tempos confissões que, devidamente pinçadas, permitem compor um auto-retrato bastante acurado, ainda que parcial. Isto porque Clarice por inteiro só os verdadeiramente íntimos conheceram e, ainda assim, com detalhes ciosamente protegidos por zonas de sombra. A verdade é que a escritora, que reconhecia com espanto ser um mistério para si mesma, continuará sendo um mistério para seus admiradores, ainda que seus textos confessionais possibilitem reveladores vislumbres de sua densa personalidade.
          Para saber mais sobre Clarice: Clique.



          E um dos seus melhores contos (na minha humilde opinião) é o Felicidade Clandestina LEIA AQUI, no qual ela traz a linguagem intimista e o estilo absolutamente pessoal. Nos dando inúmeras interpretações diferentes de seus personagens e também da história em geral, alguns críticos acreditam que este conto poderia ser um dos seus escritos autobiograficos da escritora. O que você acha?!

        Para terminar este post, deixo esse poema da Clarice Lispector que, de uma forma muito intima, me vi descrita nas linhas abaixo. Deixo o texto para voces refletirem.

"...Porque eu me imaginava mais forte.
Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado:
pensava que, somando as compreensões, eu amava.
Não sabia que somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. "

"...Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.
É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade
ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda..."

"...E é porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando.
É porque sempre tento chegar pelo meu modo.
É porque ainda não sei ceder.
É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria e não o que é.
É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele...