"Quem me dera encontrar o verso puro, O verso altivo e forte, estranho e duro, Que dissesse a chorar isto que sinto!"
Quem, ao menos, nunca ouviu falar nesta escritora que tem poesia até no nome. Está "Flor Bela" é uma poeta Portuguesa que foi precursora do movimento feminista em Portugal.
A temática de sua poesia é recorrente ao sofrimento, a solidão e ao desencanto que se contrapõem a uma ternura e um desejo de felicidade que somente pode ser alcançado no absoluto. A veemência passional de sua linguagem, traço pessoal que transparece suas frustrações e anseios por vezes carregados de sensualidade e erotismo, são características de suas poesias e de sua obra. A poetisa não se ligou claramente a um movimento literário; alheia ao modernismo (mesma época de Clarice no Brasil), seguiu a linha do poeta António Nobre, e a técnica do soneto que a celebrizou, teve influência de Antero de Quental e mais longinquamente de nada mais nada menos que Camões, o pai da Literatura Portuguesa.
Sua vida, não foi nada fácil, pra ilustrar isso em dois de dezembro de 1930, Florbela encerra seu Diário do Último Ano com a seguinte frase: “…e não haver gestos novos nem palavras novas.” Às duas horas do dia 8 de dezembro – no dia do seu aniversário Florbela D’Alma da Conceição Espanca suicida-se em Matosinhos, ingerindo dois frascos de Veronal. Algumas décadas depois seus restos mortais são transportados para Vila Viçosa, (…) a terra alentejana a que entranhadamente quero.”
Intenso, não?!
Na verdade, iria postar sobre a FlorBela na semana que vem. Porém, ao assistir a novela TITITI (novela das 19h da rede Globo), me surpreendi com esta cena:
Fiquei encantada: Um homem fazendo uma declaração dessas de amor a uma mulher e... usando uma escritora (MULHER) para isso. Então acredito: Estamos realmente conquistando nosso espaço!! rs
E nada mais, nada menos que o Real Gabinete Português de Leitura no Rio de Janeiro, para ilustrar a cena. Como se eles estivessem em Portugal, que aliás, ele prometeu levá-la!! (Torço pra cena ir ao ar durante a novela rs), gosto muito desta novela e devo admitir que a Rede Globo está de parabéns!
Voltando a nossa Flor, ai vai o poema: Fanatismo
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver !
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida !
Não vejo nada assim enlouquecida ...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida !
"Tudo no mundo é frágil, tudo passa ..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim !
E, olhos postos em ti, digo de rastros :
"Ah ! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus : Princípio e Fim ! ..."
[Livro de Soror Saudade (1923)]
E claro, como uma boa aluno do curso de Letras, fiz uma breve análise do poema seguindo algumas instruções didáticas e colocando um pouco da minha humilde opinião.
O texto, em seu início, apresenta uma expressão de sofrimento, característica de Florbela que sempre procura entrelaçar o “Amor” e a “Dor”, como se não fosse possível um existir sem o outro. É interessante essa relação, pois, no íntimo, quem é que não gosta de ter saudade ou imaginar a presença da pessoa amada que está longe.Em seu primeiro quarteto, “Fanatismo” apresenta um eu-lírico que sente a falta do ser que ama e o fato de não vê-lo é comparado, de forma dramática, à uma cegueira, que também pode ser entendida como “um não querer enxergar” mais nada além dele. Isso é observado nos versos “(...) Minh`alma de sonhar-te, anda perdida. / Meus olhos andam cegos de te ver!(...)” e representa o sofrimento. Já a intensidade desse amor está explícita na comparação do objeto do desejo com a própria vida: “(...) Pois que tu és já toda a minha vida! (...)”.Junto com a dor, o segundo quarteto demonstra o desalento diante das situações que não mudam e que é capaz de levar à loucura. A incapacidade de se alterar o curso natural da vida leva apenas a uma passagem pelo mundo, onde se consegue no máximo, contemplar seus mistérios.Observa-se, nessa primeira parte, a desilusão e o pessimismo, enfocados de maneira terna e sonhadora, onde a “Dor” está numa posição de destaque. A partir daí, Florbela tende a fazer uma inversão, colocando nessa posição de destaque o “Amor”, ou seja, transita sutilmente entre a “Dor” e o “Amor”, sentimentos que para ela, estão intimamente ligados.
A fugacidade da vida, outro tema explorado pela poetisa, é encontrado no primeiro terceto do poema na passagem “(...) “Tudo no mundo é frágil, tudo passa...” (...)” e quando a vida parece não ter mais valor, o otimismo emerge do nada, como que por uma força divina,trazendo consigo o “Amor” em sua maior intensidade, até mesmo platônico, capaz de provocar uma submissão total, uma entrega sem limites, onde o eu-lírico volta a expressar que o ser amado representa a sua vida, “o seu tudo” independente do que possa acontecer, como podemos verificar no final do poema: “(...) E, olhos postos em ti, digo de rastros: / “Ah! Podem voar mundos, morrer astros, / Que tu és como Deus: Princípio e Fim!...”
E ai, concordam?! Discordam?! O que acharam?!
Pra terminar, deixo uma de suas citações que me identifico muito.
Beijos!