terça-feira, 1 de março de 2011

São eles... Antônio Nogueira!

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem  alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo :  "Fui  eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.


(Fernando Pessoa)
 
Estas Verdades
 
 
Estas verdades não são perfeitas porque são ditas.
E antes de ditas pensadas. 
Mas no fundo o que está certo é elas negarem-se a si próprias.
Na negação oposta de afirmarem qualquer cousa.  
A única afirmação é ser.
E ser o oposto é o que não queria de mim.
(Alberto Caeiro)
 
 
Cada dia sem gozo não foi teu
      
Cada dia sem gozo não foi teu
       Foi só durares nele. Quanto vivas
       Sem que o gozes, não vives.

       Não pesa que amas, bebas ou sorrias:
       Basta o reflexo do sol ido na água
       De um charco, se te é grato.

(Ricardo Reis)
 
Ah, Onde Estou
 
  Ah, onde estou onde passo, ou onde não estou nem passo, 
  A banalidade devorante das caras de toda a gente! 
  Ah, a angústia insuportável de gente! 
  O cansaço inconvertível de ver e ouvir! 
  (Murmúrio outrora de regatos próprios, de arvoredo meu.) 
  Queria vomitar o que vi, só da náusea de o ter visto, 
  Estômago da alma alvorotado de eu ser...


(Alváro de Campos)



Para quem quiser se aventurar: Clique!


Beijos!

Nenhum comentário:

Postar um comentário