"Criei em mim várias personalidades. Crio personalidades constantemente. Cada sonho meu é imediatamente, logo ao aparecer sonhado, encarnado numa outra pessoa, que passa a sonhá-lo, e eu não."
"Só uma grande intuição pode ser bússola nos descampados da alma; só com um sentido que usa da inteligência, mas se não assemelha a ela, embora nisto com ela se funda, se pode distinguir estas figuras de sonho na sua realidade de uma a outra."
- (Fernando Pessoa, 1934)
- Beijos!
- Alberto Caeiro é considerado o mestre de todos os heterônimos de Fernando Pessoa. Nasceu em Lisboa, mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão, nem educação quase alguma, só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-se ficar em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia avó. Morreu tuberculoso.
Poemas de Alberto Caeiro:
- O meu olhar é nítido como um girassol...
Pensar em Deus é desobedecer a Deus
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Num meio-dia de fim de primavera tive um sonho....
Sou um guardador de rebanhos...
Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois...
Se eu morrer novo, sem poder publicar livro nenhum...
Assim como falham as palavras quando querem exprimir...
Pouco me importa...
O Tejo é mais belo
- Ricardo Reis nasceu no Porto. Educado em colégio de jesuítas, é médico e vive no Brasil desde 1919, pois expatriou-se espontaneamente por ser monárquico. É latinista por educação alheia, e um semi-helenista por educação própria.
Odes de Ricardo Reis:
- Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio...
Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia tinha...
Segue o teu destino, rega as tuas plantas...
Tão cedo passa tudo quanto passa...
Para ser grande, sê inteiro...
- Nasceu em Tavira, teve uma educação vulgar de Liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário.
Poemas de Álvaro de Campos:
- Adiamento: Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Passagem das horas: Trago dentro do meu coração...
Tabacaria: Não sou nada, nunca serei nada...
Apontamento: A minha alma partiu-se como um vaso vazio...
Aniversário: No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Magnificat: Quando é que passará esta noite interna...
Todas as cartas de amor são ridículas...
O Binômio de Newton é tão belo como a Vênus de Milo...
Poema em linha reta: nunca conheci quem tivesse levado porrada...
Encostei-me para trás na cadeira de convés e fechei os olhos...
Como é por dentro outra pessoa
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.
Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo.
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