terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Sonetos profundo... Nossa BelaFlor nos deixou!!

Eu quero amar,
Amar perdidamente!
Amar só por amar; Aqui... Além...
Mais Este e Aquele,
O Outro e toda a gente ...
Amar! Amar!
E não amar ninguém!
          Alguns críticos referem-se poesia de Florbela Espanca como uma espécie de don-juanismo feminino, pelos excessos e exacerbamento da paixão com voz marcadamente feminina.
          Florbela Espanca, uma mulher acima de seu tempo, tida como grande figura feminina das primeiras décadas da Literatura Portuguesa do século XX.

  Bom... Vou deixar aqui três sonetos que gosto muito. Preparem-se para uma viajem em seu interior cheio de romantismo, amor, desejo, paixão, ilusão... e outros sentimentos mais que tocaram as pessoas a mais de um século atrás e tocam as pessoas até hoje!

         

Deixai entrar a Morte, a Iluminada,
A que vem pra mim, pra me levar.
Abri todas as portas par
em par
Como
asas a bater em revoada.

Quem sou eu neste mundo?A deserdada,
A que prendeu nas mãos todo o luar,
A vida inteira, o sonho, a terra, o mar,
E que, ao abri-las, não encontrou nada!

Ó Mãe! Ó minha Mãe, pra que nasceste?
Entre agonias e em dores tamanhas
Pra que foi, dize lá, que me trouxeste

Pra que eu tivesse sido
Somente o fruto amargo das entranhas
Dum lírio que em má hora foi nascido!…

Florbela Espanca -
Reliquiae


Junquilhos ...

Nessa tarde mimosa de saudade
Em que eu te vi partir, ó meu amor,
Levaste-me a minh’alma apaixonada
Nas olhas perfumadas duma flor.

E como a alma, dessa florzita,
Que é a minha, por ti palpita amante!
Oh alma doce, pequenina e branca,
Conserva o teu perfume estonteante!

Quando fores velha, emurchecida e triste,
Recorda ao meu amor, com teu perfume
A paixão que deixou e qu’inda existe…

Ai, dize-lhe que se lembre dessa tarde,
Que venha aquecer-se ao brando lume
Dos meus olhos que morrem de saudade!

Florbela Espanca -
O Livro D’Ele


Beijos!

IX

Perdi os meus fantásticos castelos
Como névoa distante que se esfuma…
Quis vencer, quis lutar, quis defendê-los:
Quebrei as minhas lanças uma a uma!

Perdi minhas galeras entre os gelos
Que se afundaram sobre um mar de bruma…
– Tantos escolhos! Quem podia vê-los?
Deitei-me ao mar e não salvei nenhuma!

Perdi minha taça, o meu anel,
a minha cota de aço, o meu corcel,
Perdi meu elmo de oiro e pedrarias…

Sobem-me aos lábios súplicas estranhas…
Sobre o meu coração pesam montanhas…
Olho assombrada as minhas mãos vazias…

Florbela Espanca em
Charneca em Flor

"A vida é sempre a mesma para todos: rede de ilusões e desenganos. O quadro é único, a moldura é que é diferente" F. Espanca.

Gostaram?!


Beijos!

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